Ex-aluno de projeto de letramento ingressa no curso superior de Licenciatura em Educação Física

por Virginia publicado 02/03/2020 21h29, última modificação 02/03/2020 21h29
Mesmo podendo concorrer pelo sistema de cotas para pessoas com algum tipo de deficiência, Márcio obteve uma boa nota e foi aprovado pela ampla concorrência.

Os professores do projeto de Letramento para Surdos desenvolvido pelo Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napne) já comemoram os resultados positivos da ação, pois, além de contribuir para a inclusão, o empoderamento e a autonomia de pessoas surdas da comunidade interna e externa, ajudou na aprovação do aluno Márcio Eduardo Almeida Batista no vestibular para o curso superior de Licenciatura em Educação Física.

Mesmo podendo concorrer pelo sistema de cotas para pessoas com algum tipo de deficiência, Márcio obteve uma boa nota e foi aprovado pela ampla concorrência. “Aqui no IFRR tem os letramentos que foram muito importantes para que eu pudesse passar no vestibular. Com a ajuda da equipe do Napne e a prática de todas as atividades, eu consegui. Agora sou aluno do Instituto Federal de Roraima e vou precisar estudar muito, por quatro anos, até me formar e realizar meu sonho de ser um professor de Educação Física para o público infantil. Meu muito obrigado a todos os que me ajudaram nessa conquista”, disse.

Márcio é acompanhado pelo intérprete de Libras Guilherme Cury, que considera de fundamental importância o papel do intérprete para o êxito do aluno surdo. “A atuação do intérprete é de extrema relevância, pois, a não ser que o professor seja bilíngue, não há como ensinar um aluno surdo. Damos o suporte não só na interpretação das aulas, mas também na realização dos trabalhos em grupo, na comunicação com os demais alunos, facilitando a interação social, e também na comunicação do aluno em todos os processos da instituição. O ideal seria que todos tivessem ao menos o conhecimento básico sobre Libras, mas sabemos que essa não é nossa realidade. Portanto, para o aluno surdo o intérprete é fundamental. Percebemos que a comunidade acadêmica é receptiva e bastante parceira, demonstrando sensibilidade à causa da inclusão, e isso é muito importante para o processo da educação inclusiva”, explicou.

De acordo com a coordenadora do Napne, professora Esmeraci do Nascimento, o núcleo tem por finalidade fomentar políticas públicas de inclusão e assessorar no desenvolvimento de ações de natureza sistêmica no âmbito do ensino, da pesquisa, da extensão e da inovação e, ao longo desses anos, tem avançado para cumprir essas metas. Atualmente, além do ensino, há ações de extensão que beneficiam a comunidade, inclusive com o envolvimento de acadêmicos das licenciaturas no processo de pesquisa, na área da educação inclusiva.  “Nesse último vestibular, a equipe do Napne teve a satisfação de ter um de seus alunos participantes dos letramentos em 2019 aprovado para o curso de Licenciatura em Educação Física, uma demonstração de que estamos no caminho certo, com vistas à consolidação de processos para a educação inclusiva”, comentou.

Letramento – O projeto de Letramento para Surdos desenvolvido pelo Napne do CBV desde 2016 visa ao desenvolvimento acadêmico e social de estudantes com deficiência. Atualmente, atende a estudantes surdos do Campus Boa Vista (CBV) e da comunidade surda do Estado de Roraima, oferecendo, semestralmente, cursos de extensão de 30 horas em três modalidades: Letramento em Língua Portuguesa, Letramento em Matemática e Letramento em Libras.

Esmeraci explica ainda que esse trabalho já vem rendendo bons frutos também na formação de futuros professores com diversos trabalhos de pesquisa voltados para essa área e com produção de material para a educação de surdos. “Isso nos traz muita satisfação, pois partimos de uma concepção aplicada ao letramento de surdos que considera que as comunidades surdas participam, nas diferentes esferas da atividade humana, de práticas sociais de linguagem em duas línguas: Libras, que é uma língua ágrafa, e Língua Portuguesa, de materialidade oral e escrita”, finalizou.

Já o coordenador do curso de Licenciatura em Educação Física, professor Moacir Augusto de Souza, lembra que este não é o primeiro aluno surdo formado. Em 2015, Carlos Natrodt colou grau e também demonstrou vontade de vencer, superando as dificuldades. “Já temos um longo caminho percorrido na área de inclusão, com vários cursos de formação na área de Libras, por meio dos quais muitos servidores foram capacitados, e isso facilita o atendimento desses alunos. No entanto, uma de nossas maiores dificuldade é o ensino das disciplinas técnicas, pois, muitas vezes, nem os intérpretes, nem os alunos têm o conhecimento básico necessário para que possam aprender os conteúdos específicos, mas, no caso do Carlos Natrodt, por ele ser praticante de várias modalidades esportivas, já tinha algum conhecimento, o que o ajudou muito, aliado à força de vontade. Outro desafio para a instituição, esse ainda maior, é o de inserir esses alunos já formados no mercado de trabalho, o que requer um trabalho conjunto no campo da extensão junto ao poder público, para fomentar a oferta de vagas específicas em concursos públicos, e também junto à iniciativa privada, para que contratem pessoas com deficiência”, afirmou.

Souza declara também que a organização do curso por módulos específicos representa um diferencial da instituição, a exemplo do sétimo módulo dedicado à Educação Inclusiva, com as disciplinas Educação Física e Esportes Adaptados, Braile, Educação Especial na Perspectiva da Inclusão, Libras, Educação de Dotados e Talentosos, e Estudo das Deficiências. Com a reformulação do Projeto Pedagógico do Curso (PPC), a ideia é que Libras e Braile sejam ministradas logo no primeiro módulo, para que os alunos tenham contato mais cedo com essas disciplinas, adquirindo conhecimentos para inclusive apoiar os alunos com deficiência que ingressem no curso. “Nossos professores têm o perfil profissional para trabalhar com esse público, uma vez que também são qualificados na área da Educação Especial. Já nossos alunos adquirem ampla experiência em estágios realizados nos espaços municipais e estaduais da rede de atenção à pessoa com deficiência”, disse o professor.

 

Virginia Albuquerque
CCS/Campus Boa Vista
02/03/20